
O dia em que me apaixonei por Bukowski
- 29 de julho de 2018
- 18 Comentário (s)
Nunca me identifiquei com o otimismo de autores clássicos, nunca compreendi a profundidade de suas obras. Lia por necessidade de me apegar a algo, na esperança de me encontrar nas palavras de alguém. E eis que aconteceu.
Charles Bukowski nasceu em 1920 e morreu exatamente no ano em que nasci 1994, por desejo dos deuses, ele ficou com a tranquilidade eterna, e eu com a missão de devorar todas as suas obras até o fim da vida. Conheci-o em uma dessas fugas para a biblioteca, encontrei um exemplar surrado de “Cartas na Rua” um de seus livros, em que ele narra o período em que trabalhou para os correios. Abri o livro, e a primeira frase que encontre foi”Tudo começou como um erro.” Imediatamente pensei que finalmente havia me encontrado, alguém conseguiu escrever o que eu sentia, em um minuto, alguém me descreveu sem mais pudores. Devorei o livro em um dia, não me senti saciada e fui atrás de mais. Encontrei “Misto Quente“ Cronologicamente falando, o primeiro livro dele, cada frase me feria como um soco no estomago, cada capitulo era um tropeço inegável da existência humana, terminei o livro com um sorriso bobo como quem sente saudade de um velho conhecido, parti para Mulheres, Hollywood, Pulp, Numa fria, e todos os seus outros livros. Me dei por esgotada, conhecia cada detalhe de sua escrita suja, cada segredo mesquinho de sua vida rude, cada impureza descrita sem delonga alguma, eu sabia, que havia me encontrado, infelizmente, no escritor mais maldito de todos os tempos.
Por que ler Bukowski, afinal, é isso, nadar contra a corrente, não pertencer a grupo algum, e ainda assim, querer fazer parte dessa matilha de um lobo só, ler Bukowski é saber que sua escrita não era pela fama, sua unica necessidade era afogar todos os seus demônios, em uma bebida barata, em pura poesia, em medo de se permitir, e ainda assim, ousar tentar. Ler Bukowski exige ter colhões, exige coragem, ter a verdade esfregada na sua cara, sem receio do que possa pensar. Encontramos aqui um velho safado, pervertido, pessimista, sujo, bruto, rude, sincero, visceral, tão intenso que chega a ser doloroso, mas a vida é assim também, não? Reservo uma unica palavra para Bukowski: INEFÁVEL;
1. que não se pode nomear ou descrever em razão de sua natureza, força, beleza; indizível, indescritível.
2. p.ext. que causa imenso prazer; inebriante, delicioso, encantador.
18 comentários em “O dia em que me apaixonei por Bukowski”
Rodrigo Santarem
Eu adorei o seu texto. Também me sinto assim em relação ao Velho. Sempre gostei de escrever, sou poeta por convicção, e talvez, por maldição também. Mas eu me atava a um estilo covarde, casto. Então, lá pelos meus 15 ou 16 anos (hoje tenho 27), eu conheci Bukowski. Li Delírio Cotidiano. Eu estava achando o livro todo um grande ultraje, até que me deparei com um certo texto, que agora não saberia dizer qual é., Mas lembro que aquele texto foi como uma epifania, um soco no estômago, como você diz. Lentamente, ao longo dos anos, eu fui tomando coragem de escrever as coisas da forma como eu realmente sinto. Hoje a minha escrita é forte, cruel e visceral, mas acima de tudo, é franca. Depois daquele livro, já li uma boa parte da obra dele, e meu objetivo é ler realmente tudo que ele escreveu. Fico muito satisfeito de ver que não estou sozinho, e que nos últimos anos, muitas pessoas puderam conhecer e amar o velho Hank, assim como eu amo.
Anton Roos
Adorei. Monstro. Querido. Selvagem. Seminal. Bukowski. Gênio.
sandman
excelente.
“tudo tem sido tão bestial
e adorável,
esse rio insano,
essa loucura
roubada
à mão armada
que não desejo a
ninguém
a não ser a mim mesmo,
amém.”
http://a-vontade.blogspot com
jane
não consigo entender uma mulher que se apaixona por um escritor que define as mulheres como putas, unicamente, e de forma rasa e um tanto machista, escrota e previsível.
sim, buk é genial, mas esse lado “pervertido”, só o mostra o quanto é um velho tarado punheteiro e que insistia em ver as mulheres como meras putas.
Alice
Essa parte machista dele eu não gosto, mas faz quem ele é.
Creio que a essência da escrita dela é essa maneira crua que ele via a vida, sem beleza, sem romance, sem mentiras. Ele é muito machista e por vezes nojento, mas ele não embeleza isso, pro bem ou pro mal ele mostra exatamente o que ele acha sem se importar. Acho isso fascinante (:
Dayhara Martins
Olá Jane, bom dia. Você já viu uma carta que Bukowski escreveu em resposta a um jornalista após relatarem que um de seus livros(notas de um velho safado) havia sido retirado da prateleira de uma biblioteca na Holanda, por desrespeitoso com negros, gays e mulheres? Procure! A carta é simplesmente magnifica, caso não encontre na internet, ela está no livro Cartas extraordinárias. Ele diz mais ou menos isso”Escrevi exatamente o que as pessoas foram pra mim, que mal eu fiz?” É claro que a visão pervertida de Bukowski, não é nem um pouco agradavel, mas um cara que viveu no submundo das ruas, poderia escrever sobre otimismo, sobre a felicidade plena? Nos seus ultimos livros, nos poemas mais recentes, vemos o quanto ele mudou sua visão sobre muitas coisas, mulheres, escrita, a vida. Procure algum poema que ele fez para Jane, o grande amor de sua vida, ou algum para sua esposa, tenho certeza que vai pensar um pouquinho. Ser agradavel algumas vezes não anula seu lado pervertido, mas obviamente te faz compreender motivos. Bom dia.
Aldo Jr
O que é mais foda disso tudo é a falta de pudor do velho. Muita gente, MUITA GENTE, tem vontade de se expressar da mesma forma, mas tá muito antenada no MIMIMI do mundo e acaba sufocando a própria arte. Precisamos de mais coragem mesmo. O velho faz muita falta!
Sandman-.-
Machista? As mulheres nos seus livros quase sempre são pessoas super fortes, imponentes, muito mais do que os homens pelo menos. As define como puta no mesmo nível que define os homens. E ainda tem todo o contexto de onde e quando foi escrito. A própria linguagem usada define o ambiente das histórias. Difícil dissociar as coisas. A preocupação dele não era empoderar a mulher, era mostrar essa realidade suja, seca e, às vezes bonita (de um jeito meio estranho); ainda assim a maioria das suas mulheres eram muito “melhores” que a maioria dos seus homens. Acho desleal simplesmente dizer que era “machista” alguém que colocava o ser humano em tão pé de igualdade, sempre medido bem por baixo.
Paulo Henrique Cruz
Lindo texto Day, parabéns 🙂
Dayhara Martins
Obrigadinhannnn chefe. 🙂
Sara
Texto excelente que resume tudo o que eu também sinto ao ler esse senhor! Beijos!
Bruna
“Ler Bukowski exige ter colhões”. Compreender a perspectiva e o apaixonante contexto do autor é diferente de reproduzir a sua visão. Texto muito bem escrito e muito interessante, não fosse por esse infeliz trecho machista.
Não tenho colhões e leio Bukowski.
Marco Darko
Ótimo texto. O primeiro livro que li foi Numa Fria, foi amor à primeira lida, mesmo o amor sendo “como a neblina que queima com o primeiro raio de realidade”
João da Silva
Era um romântico, ele. Sua poesia eco romantismo possível da época. Curtia ele quando era mais novo que vc, quando seus primeiros livros saíram no Brasil. Tenho mais de 50 hoje, eu mesmo um velho (safado?). Continuo gostando. E relendo.
Melken Rossidrago
Incrível texto sobre um autor único, deveras inefável. Não poderia ser colocado de melhor forma.
Caco Appel
Gosto de Bukowski, e muito, mas por aqui temos um melhor. Quem gostou do que Bukowski escreveu precisa ler “Diário Selvagem” de José Carlos Oliveira – o nosso Carlinhos Oliveira -, demolidor! Recomendo.
Águeda Damião
Buk é, e sempre será meu preferido 💜
Paulo Sensorial
também é um dos nossos, o velho foi mega foda